O processo de construção das várias formas de conhecimento possui sua própria história. Pelo fato de ser histórico, significa que é algo mutável, que se transforma com o tempo.
O pensamento científico, base da estrutura do nosso pensamento subjetivo, pessoal, nasce com a Revolução Científica que acontece durante o século XVI, na Europa, tornando-se referência para todo o Ocidente. Antes disso, especialmente no período que convencionamos chamar de Antiguidade (Grécia e Roma antigas), o pensamento dominante era aquele que construía as verdades fundamentando-se em um universo místico, mitológico, do qual derivariam as decisões que desencadeariam os acontecimentos sobre este espaço mundano.
A ciência, neste período, possuía um caráter contemplativo dos fenômenos naturais, humanos e sociais. A razão humana, traduzida num jogo de palavras e sentenças mobilizadas pelo pensamento filosófico, era o necessário para a decodificação dos fenômenos. A experimentação e a sistematização da investigação não constituíam uma preocupação nesta época.
Na Idade Média, período histórico subseqüente, a produção do conhecimento ficou restrita às Sagradas Escrituras. O livre pensar, característico dos antigos pensadores gregos (Aristóteles, por exemplo) foi condenado pela Igreja Católica que, após a queda do Império Romano, tornou-se a instituição de maior poder na Europa.
O pensamento cristão passou a ser dominante, sendo a preparação para a vida eterna (pós-morte) a maior preocupação das pessoas nesta época. Questionar, experimentar, investigar passaram a ser atitudes condenadas e julgadas pela Santa Inquisição (Galileu Galilei).
A ascensão da burguesia, camada social intermediária entre a nobreza e o povo neste período, trouxe a necessidade da ampliação de mercados para seus negócios, fazendo nascer o período das Grandes Navegações e da colonização das Américas e da África.
Para este contexto de abertura, o pensamento cristão, limitado e castrador, já não servia mais. O movimento das pessoas, tanto em termos da produção material quanto em termos da produção intelectual, pedia por uma revolução do pensamento, mesmo porque a idéia de um mundo plano e finito havia sido seriamente abalada com o fato de europeus terem chegado às Américas.
A partir de então e pelos séculos posteriores, até os dias atuais, dá-se início ao processo de racionalização e especialização do pensamento e da produção do conhecimento. O século XVII, denominado “o século do método”, teve como contemporâneos Descartes, Locke, Bacon, Kepler, Newton, herdeiros dessa nova ordem, responsáveis pela organização e sistematização do método de investigação científica, que passa a ser concebido como a única maneira de se chegar à verdade dos fatos e fenômenos em todas as áreas do conhecimento (que agora está dividido, especializado).
Esse processo de divisão e especialização do conhecimento foi fundamental para o desenvolvimento do sistema capitalista de produção. Ao se dessacralizar a natureza, separando-a da natureza humana, acreditou-se ser possível dominar as forças naturais e colocá-las a serviço do capital. Neste contexto, a primeira separação que se deu foi entre o “conhecimento de senso comum” e o “conhecimento científico”.
Vejamos suas características:
Conhecimento de Senso Comum Conhecimento Científico
Sensorial/parcial racionalidade/objetividade
Subjetivo sistematização/padronização/generalização
Contraditório lógica/precisão/quantificação
Sem reflexão/sem método simplicidade/harmonia/homogeneidade
Fragmentário/difuso/assistemático ciências naturais como modelo de ciência
A incerteza da razão entregue a si mesma opõe-se à certeza da experiência ordenada.
A matemática se torna o instrumento privilegiado de análise, a lógica da investigação, o modelo de representação da própria estrutura da matéria, do mundo natural e social.
Assim, conhecer significa quantificar, dividir e classificar, para depois estabelecer relações sistemáticas entre as partes. A distinção entre “condições iniciais” e “leis da natureza” é primordial. As primeiras são complicações, acidentes, sendo necessário selecionar as condições relevantes ao fato a ser observado; as leis naturais representam a simplicidade e a regularidade, sendo passíveis ao rigor da observação e da quantificação. Apesar de nem um pouco natural e completamente arbitrária, é sobre esta distinção que se assenta toda ciência moderna.